A DANÇA ORIENTAL NO MUNDO ÁRABE
Primeiramente, o nome "dança do ventre" no mundo árabe não existe. "Dança do ventre" é uma criação francesa para designar a Dança Oriental, a Raqs Ash-sharqi. Logo, dizer que a dança do ventre é uma arte feminina porque só mulher tem ventre é a reprodução de um preconceito orientalista criado no séc. XIX. O termo "dança do ventre"
acabou por abarcar não só a "dança das odaliscas", como também as
expressões culturais de cada região, massificando num só nome estilos de
diversas regiões e posteriormente países.

Dessa forma, a dança oriental teve uma grande expressão no mundo árabe, e posteriormente na época do Imperialismo, pelo mundo europeu. No mundo árabe percebemos a grande influência no Líbano, ainda que lá não seja tão marcante e característica quanto no Egito (o dabke é muito mais tradicional no Líbano que a dança do ventre propriamente dita), e também na Turquia, a atual herdeira do Império Turco Otomano.

Sendo assim, vou me ater ao Egito para facilitar a visão deste momento. Ahhh, o Egito! A Inglaterra deu a independência ao Egito
em 1922, mas quem disse que ela saiu de lá? A influência britânica foi
extremamente forte até o início da segunda onda do nacionalismo egípcio
na década de 50.

Bem, aí a coisa começou a mudar: a Palestina foi repartida para dar lugar ao Estado de Israel em 1948. Comoção no mundo árabe!
Uma
das explicações para isso ter acontecido foi o desvirtuamento da fé que
os países árabe-islâmicos haviam se submetido ao absorver valores
ocidentais. A dança do ventre começou a perder espaço
gradativamente, o uso do véu começou a voltar com força nas grandes
cidades, várias pessoas passavam a exprimir asco e revolta ante os valores ocidentais que antes se faziam presentes nos grandes círculos da sociedade. Os países árabes ainda tentaram retomar os territórios da Palestina, mas foram derrotados (espiões israelenses descobriram a tática de guerra deles pouco antes do confronto), o que gerou ainda mais essa necessidade de retorno à fé,
aos verdadeiros valores islâmicos. Para piorar na Guerra dos Seis dias,
em 1970 Israel invadiu e ocupou a Península do Sinai, território
egípcio, que só foi devolvida através de um tratado de paz em 79. O que
aconteceu então? Egito expulso da Liga Árabe, presidente assassinado por
um fundamentalista, Egito na mão de Hosni Mubarak. O resto a gente conhece pelos noticiários...

Essa situação também é narrada no livro autobiográfico da dançarina egípcia Dina (Ma Liberté de Danser), que só tomei conhecimento depois de contar para a Lívia o que conto a vocês neste post, sobre a mudança da imagem da dança do ventre no mundo árabe. Essa volta ao conservadorismo aconteceu em todo o mundo árabe, até mesmo no Líbano que é cristão! A dança do ventre fora dos círculos familiares passou a ser vista como haram (ilícito), como uma importação e não com expressão da cultura egípcia, e até mesmo árabe!


No entanto, a dança do ventre no meio familiar anda fortalecida no Egito. As mulheres andam de niqab na rua (aquele véu que só deixa os olhos à mostra), depois passam na Khan el Khalili (ou seus maridos), compram uma roupa de dança do ventre ou um xale de medalhas, e vão pra casa dançar! Eu mostro meus vídeos para elas, elas gostam, dão opinião, dicas, etc, a dança do ventre nesse ponto acredito que nunca vai morrer! Inshallah!
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